MORTE – CONCEITO SERTANEJO
Das carcaças espalhadas pela imensidão seca e isolada, a confusão é grande entre meninos bois e meninos nus que trafegam pelo terreiro de chão batido chicoteado pelo Sol. O torrão natal vem se tornando árido e cruel. Cruel como a mais afiada das lâminas que cortam sua pele na ceifada certeira de minha foice que separa a tênue linha entre morrer e viver de morte. “MORTE”, ao pronunciar esta palavra, aqueles que fadigam no sertão tremem suas varas e batem suas carcaças com o pavor de me encontrar em seus tenebrosos caminhos. Mal sabem eles que o encontro comigo é inevitável, esse encontro que muitos asseiam e outros odeiam.
Aqueles que tentam me enganar com truques baratos e façanhas miraculosas apenas estão adiando o sutil encontro entre nós. É inevitável nessa terra abandonada por ELE e esquecida na memória de seu filho, que os homens tropecem comigo na aridez de um devaneio qualquer, na hora do desespero e da angústia, na solidão do meio-dia em Outubro. Quando a estrela brilhante queima as esperanças do sertão eu sou chamada para aliviar a dor daqueles que clamam por um pedaço de pão, por um gole de água na cabaça vazia, por um leve suspiro de uma brisa perdida na imensidão seca.
Sim. Essa sou eu. Essa que brinca na penumbra escura de noites sertanejas, essa que leva os mais fracos e desesperançados ao limbo do sono eterno. Não temas! Te farei descansar em sonhos profundos, onde seus desejos serão saciados e reinventados. Todo sofrimento e dor serão abreviados e eliminados, serão esquecidos e destruídos.
Não sou tão má quanto todos falam. Não sou violenta e não represento a dor e o fim, mas sim, sou um novo começo, sou a paz, sou a tranquilidade e sou o aconchego que te fará descançar... descançar em paz.
Venham até mim pobres sertanejos que buscam a glória da alegria eterna, a glória da náusea infinita e o consolo para que possam livrar-se de tudo que se tem visto desde os primórdios da vida sertaneja e nordestina. Esse pedaço de chão duro e ressequido não te pertence mais, os espinhos dos cactos e os galhos secos da caatinga ficaram para trás. Deixai os restos mortais para os pobres e famintos carcarás.
Venha até mim... e descanse em paz!
Por: Lucélio Marques
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